Viagem Longa e Estranha
Por Cleber Jr – Sábado pela manhã, fui à rua! Somado o tempo das vezes que fui à padaria, à farmácia ou ao hortifruti, aqui perto, durante os últimos cinco meses, dá menos tempo que passar toda a manhã e início da tarde batendo perna por aí.
Olhando ao redor, o movimento das pessoas, dos carros e da vida do novo normal, no mesmo dia que o país chega a 100 mil mortos é assustador.
Eu me senti um alienígena que chega à Terra sem saber da missa a metade.
Passei todo o tempo pensando, pensar foi uma das coisas positivas da quarentena. Pensei em tudo aquilo que deixei, cinco meses atrás. A rotina de trabalho, o dia a dia, sair e voltar. Pensei no tempo, em como o mundo está diferente, sem ter mudado nada, sem ter no mínimo dado um passo, mesmo tendo essa oportunidade com a quarentena.
Não foi nada! Se jogou! Esperou o contato, contato veio… segue o jogo!
Pensando durante os cinco meses passados, tive tempo de refletir sobre muita coisa e aprendi lições de vida em conversas com amigos, naqueles momentos mais difíceis e entre tapas e beijos nas redes sociais.
Junto a isso, como muitos de nós, tenho visto séries e entre elas, comecei essa semana, o primeiro capítulo de Long Strange Trip a série que conta a história da formação e a trajetória de sucesso do Grateful Dead icônica banda que reavaliou a América, sendo a banda mais americana de todas. Era um tempo de mudanças e a banda abriu portas para que a arte, o improviso criativo e o amor fossem exercícios livres e exercidos em experiências lisérgicas.

Os shows do Dead eram viagens hippies em busca de uma conexão com o espírito que nos alimenta em sua pureza existencial. O filme te leva para lá, em São Francisco, na virada dos 1960 para 1970 que era para onde iam as pessoas que pretendiam abraçar todos os aspectos do renascimento espiritual e os experimentos com ácido.
Era um choque cultural, de difícil compreensão para uma sociedade como a americana, conservadora ao extremo. O sentido dessa viagem para aqueles que partiam para lá era oposto da vida limitada imposta por costumes convencionais, dogmas religiosos, regras rígidas e guerras. Em determinado momento Jerry Garcia, guitarrista e mentor do Grateful Dead declara, “queremos um planeta em paz, não pensamos em poder, em dificuldades, muito menos em revolução ou guerra, ninguém quer se ferir, nem ferir ninguém. Gostaríamos de viver uma vida despojada, simples e boa para tentar levar a raça humana um passo à frente.”
Voltando ao Brasil em que vivemos, lembrei de Nelson Rodrigues, um gênio sagaz, que fez desmoronar, sem medo de repressão, postagens em redes sociais, ameaças veladas e cancelamentos, a nossa sociedade burguesa e hipócrita e foi admirado por isso.
O movimento hippie e as críticas sociais colaboraram para o mundo evoluir rapidamente, discutindo comportamentos, valores sociais, econômicos e tecnológicos, mas, parece que em algum momento nos perdemos e tontos estamos andando em círculos, olhando para trás querendo voltar no tempo, cinquenta anos atrás.
Quando a máquina recebe muitas informações, em conjunto de muitas fontes e janelas abertas, ela trava, como uma auto defesa. Dessa vez as regras foram quebradas por um vírus, ele nos choca e nos coloca nas cordas, indefesos, sem resposta, sem solução.
Para e reinicia. Melhor, para e recicla.
Boa reflexão. Talvez seja a maior oportunidade que nosso tempo tenha nos dado para reavaliarmos nossas crenças, nossas atitudes e nossas ações. Que sirva mais para o crescimento do que para o inconformismo.
Tempos de reflexão para sairmos melhores do que entramos de tudo isso! Se é que existe uma saída!?
Parabéns pelo texto!!!