WOODSTOCK: UM SONHO FABRICADO
O canal HBO (e também o streaming HBO Max) está exibindo, dentro de sua série de documentários musicais chamada “Music Box”, um formidável capítulo (o primeiro da série) sobre o malfadado – e pouco falado – festival Woodstock 1999. Sinceramente, na época, nem tomei conhecimento deste, que soava apenas como uma exploração final em cima do cadáver do mítico festival original, de 1969. Mas, a coisa foi bem pior do que poderíamos imaginar.
De forma geral, o festival de Woodstock de 1969 não foi, em essência, o que se vendeu depois, em frases de efeito e posters com simbologias hippies. Os tais ‘três dias de paz e amor’, anunciados no cartaz, escondiam, na verdade, um evento que foi completamente caótico que sofreu com falta de organização e infraestrutura (teve até gente morta!). O festival (bolado por Michael Lang), originalmente, era um projeto da Warner Music, cujo filme foi feito para ajudar a vender a trilha-sonora (dupla e tripla, com nomes como Jimi Hendrix, The Who, Joe Cocker, Santana etc.). Como a repercussão foi maior do que a esperada, o longa foi lançado, mundialmente (editado por um então desconhecido Martin Scorsese!), e acabou sendo, também, sucesso de bilheteria. No fim das contas, quem ganhou com tudo isso, foi a Warner Bros., que, até hoje, fatura em cima do nome e do sonho hippie. E, se a lenda é maior do que a realidade, imprima-se a lenda, claro.
O nome Woodstock ficou guardado por várias décadas, para não macular a imagem que se tinha dele. Ate que, em 1994, criou-se uma nova edição que, se não foi tão bem sucedida, pelo menos, deixou na memória o selvagem show do Nine Inch Nails.
A ganancia (os discos continuaram vendendo muito) levou a criação de mais um Woodstock, apenas cinco anos depois, numa base militar desativada, perto do local original. E, esta, provou ser um completo erro de logística e escalação. Além de ter acontecido num verão infernal, num lugar árido e com água a US$4 dólares (caro, até para os dias atuais), seu público foi constituído quase que totalmente por rapazes brancos na casa dos 22-24 anos, prontos para detonar o que fosse (semelhantes aos pitboys cariocas). E bandas e artistas de baixa qualidade, como os reaças Kid Rock e Limp Bizkit, ajudaram a botar fogo na parada, com seus discursos de ódio. Mesmo RHCP, Korn, Offspring, RATM e Metallica, contribuíram para o caos.
Resultado: o festival teve um número recorde de ataques sexuais e terminou numa grande pancadaria, com destruição das instalações, saques das lojas e um grande incêndio (provocado por velas distribuídas por ONG ‘da paz’) e botou abaixo todo o falso ideal embalado pelo marketing. No fim, parece que a gente está vendo um filme de terror. E o doc, faz jus ao seu nome: “Woodstock 99: Peace, Love and Rage”. Nunca mais teve outro (nem o que comemoraria os seus 50 anos, em 2019). Não precisa.
TOM LEÃO
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