WILD ROSE: ‘TRÊS ACORDES E UMA VERDADE’
Essa frase, está tatuada no braço da espevitada Rose-Lynn, a personagem principal de ‘Wild Rose’ (aqui, ‘As loucuras de Rose’; e cuja abertura, traz uma versão para ‘Country girl’, do Primal Scream), uma ruiva, que vive em Glasgow, mas que adora country music. Ela queria ter nascido americana e ser uma estrela do country raiz. Como não nasceu, canta num arremedo escocês do Grand Ole Opry, sonhando um dia ir brilhar em Nashville, meca do estilo – e onde está o Ole Opry original, por onde já passaram Johnny Cash, Patsy Cline e grandes nomes imortais da cultura country.
Enquanto isso não acontece, Rose-Lynn (interpretada com garra e paixão pela irlandesa Jessie Buckley), ganha uns trocados como diarista. O bastante apenas para (mal) se sustentar e aos dois filhos pequenos, de pai(s) ausente(s): um casal, com nome de astros do country Lyle (Lovett) e Wynonna (Judds).
A posição de Rose-Lynn, uma escocesa fissurada em country, é curiosa. Quantas vezes, nós não quisemos ou sonhamos em ser alguém, sobretudo na música, muito diferente de nossas realidades? Eu, gótico aos 18, me sentia totalmente deslocado no quente Rio de Janeiro. Sonhava com Londres (ou Manchester, terra do Joy Division). É como os japoneses que criam escolas de samba. Soa fora do lugar. Mas, se você acredita naquilo com fé, não interessa o lugar onde viva. É a sua verdade.
E, verdade, é o que sai tanto da boca da personagem, quanto da atriz que faz Rose-Lynn. A atriz Jessie Buckley, é uma irlandesa, que tirou segundo lugar, como cantora, num concurso de talentos da BBC. Então, tudo o que você ouve saindo de sua boca, é verdade. Não é voice over. Jessie canta pra caráter!
Além dos perrengues da personagem, tão deslocada na Escócia por gostar de country quanto o jovem paquistanês de ‘Blinded by the light’, por gostar de Bruce Springsteen, ‘Wild Rose’ dá um toque essencial, para quem curte um determinado gênero musical, mas vive num lugar que não combina: seja você mesmo. Assim como Springsteen cantava as suas verdades (de filho da classe proletária de New Jersey/EUA), a ‘rosa selvagem’ só desabrocha, quando passa a fazer o mesmo.
*Para quem ficou a fim de ver, o filme está disponível no Amazon Prime Video, ou pode ser alugado no AppleTV ou Google Play.
Tom Leão
Comentários