Um dos mais respeitados jornalistas do Brasil, Tom Leão está na Radiocultfm.com. Sua coluna semanal, NA COVA DO LEÃO, é um olhar felino sobre trilhas sonoras e sons que habitam a alma criativa de Tom. Venha sempre!
Finalmente, chegou ao Brasil, no Star+, a minissérie biográfica ‘Pistol’, baseada em livro do fundador e guitarrista original dos Sex Pistols, Steve Jones. Com apenas seis capítulos (com cerca
de 50 minutos, cada) e com direção do premiado cineasta Danny Boyle (‘Trainspotting’ e ‘Quem quer ser um milionário?’), a série tinha tudo para dar certo, com os nomes envolvidos. Mas,
no geral, os episódios não cativam e são até meio chatos. Em certas partes, até irritam. São frios, sem emoção, com pouca vibração. Enfim, sem nada do que fez o punk rock ser a onda selvagem que varreu a música no fim dos 70s. Parece uma
caricatura, apesar das fontes originais.
A coisa toda, é conduzida by the book: cenas certinhas, falas ditas como se fossem declamadas a partir de livros de história (até parece que, os punks, no meio daquilo tudo, teriam visão do
que estava acontecendo, para dize-las assim), o que torna os personagens um tanto sem alma (pode-se atribuir isso ao fato de virem do livro de Jones, um analfabeto funcional, que só aprendeu a ler aos 40 anos). Até a fotografia é muito limpa, filtrada, não pega nada do que era o clima da Londres que originou o punk (suja, escura). Tem mais cara de musical americano. e os tipos, parecem estar fantasiados de punks.
O que empolga mais na série, de modo geral, é a balconista da loja Sex, uma certa Chrissie Hynde (Sydney Chandler), que viria a ser a líder da banda The Pretenders, já nos 80s, e ainda na ativa; e a entrada em cena do indomável Johnny Rotten (Anson Boon), a alma dos Sex Pistols, e que nunca foi um poser, como vários lá. Hynde, teve um caso com Jones, pouco divulgado na época. Por isso, o quase romance entre eles (ela namorava o badalado jornalista musical Nick Kent, do ‘NME”), essa parte enche bastante tempo da série, para dar um clima romântico.
Para fãs da banda e do período, resta ver como foi o começo da cena, e alguns tipos importantes dela. Como Jordan (feita por Maisie Williams), que, com seu visual, influenciou o punk, e faleceu recentemente; Siouxsie Sioux (que, logo ali, adiante, formaria o Siouxsie & the Banshees), o importante jornalista Nick Kent (que ajudou a divulgar o ‘movimento’), Soo Catwoman e a anã Helena de Tróia (todas, muito mal exploradas e caricatas, ficam apenas rindo e fumando nas cenas). E, sobretudo, o casal Malcolm McLaren (o ‘empresário’ e visionário da coisa toda, que apostou na banda e no caos) e sua esposa, a estilista Vivienne Westwood, que, através de sua loja, Sex, e das roupas lá expostas, criou o visual punk como conhecemos (já nasceu ‘de butique’), a partir de influencias dessa galera que frequentava a loja (especializada em visuais s&m) e de sua
própria visão provocante de mundo, à frente de seu tempo.
Um ponto positivo na série (são poucos, além dos atores que fazem Lydon e Hynde), é recriar certos momentos importantes da ascensão dos Pistols. Para quem não conhece e nunca viu, valem à pena. Como na vez em que foram na Thames TV e disseram palavrões em horário nobre (um escândalo nacional). E da vez em que, aproveitando o Jubileu de Prata da rainha,
McLaren alugou um barco e botou a banda para tocar ‘God save the queen’ (cujo compacto tinha acabado de ser lançado e as rádios boicotavam), no Tâmisa, do lado do parlamento, e que acabou com todos os envolvidos sendo presos. E, uns poucos momentos da parte da conturbada primeira e única turnê nos EUA, que foi quando a banda acabou, em meio a mil problemas internos, como o vício do baixista Sid Vicious em heroína.
Fora isso, ‘Pistol’, é um bocado decepcionante, com partes musicais que entram do nada, o fazendo ficar parecido com um musical americano. Dá a impressão de, por fazerem parte do grupo Disney, puxou-se um freio para que a série seja mais polida do que deveria ser. E rola um lacre de leve. Mas, como é uma ‘banda de butique’ mesmo, tanto faz.
TOM LEÃO
Pistol é uma minissérie de drama biográfico criada por Craig Pearce para o FX. A série foi anunciada em janeiro de 2021 e foi dirigida por Danny Boyle. Ela estreou no FX on Hulu em 31 de maio de 2022.
Comentários