‘MOONAGE DAYDREAM’: BOWIE POR ELE MESMO, EM DOCUMENTÁRIO ALÉM DO CONVENCIONAL
O documentário ‘Moonage Daydream’, de Brett Morgen, sobre David Bowie (em cartaz nos cinemas; breve, em VOD), é a melhor coisa que você jamais verá sobre o falecido popstar
inglês. Porque ele não tem nada da biografia filmada convencional que estamos acostumados a ver. Ou seja: não tem depoimentos de amigos, músicos, jornalistas, familiares, linha do tempo, ascensão e queda (com drogas e sexo no meio) e redenção. Não há, absolutamente, nada disso lá. Quem fala, o tempo todo, sobre ele mesmo, é o próprio Bowie, a partir de inúmeras entrevistas feitas entre os anos 1970 e a década passada. É impressionante o material que existe em arquivo,
comparado ao que os pesquisadores aqui encontram, quando vão tentar fazer algo do gênero, que é perto de zero.
Morgen (que, antes, havia feito outro documentário sobre personalidade marcante do rock, ‘Cobain: a montage of heck’, de 2017, sobre Kurt Cobain, do Nirvana) teve um trabalho dos diabos para editar a coisa toda, numa ordem cronológica toda própria, a partir das fases e canções marcantes de Bowie, que nunca era o mesmo por muito tempo. Então, é da boca do
próprio (a partir de diversas entrevistas), que ficamos sabendo que ele sempre foi inquieto, desde garotinho, que foi um meio-irmão quem lhe aplicou na alta cultura, que seus pais não se
amavam e ele nunca foi aceito pela mãe, que ele sabia desde cedo da finitude humana, que só encontrou o amor depois dos 40 (com a modelo Iman), que nunca comprou uma casa porque
não se sentia em casa em parte alguma (morou em várias partes do mundo, mas odiou Los Angeles) e que só a arte (música, escultura, pintura, escrita, atuação) lhe dava um sentido na vida. Só assim, ele tentava saber quem era.
Então, não espere aquele documentário convencional que lhe faz sair da sala com a alma lavada, após ver alguém que lutou contra tudo e venceu. Nada disso (neste caso, o câncer foi quem venceu o fumante de longa data). ‘Moonage Daydream’ te deixa pensativo, reflexivo. Contudo, quem assiste, fica com uma imagem completa do artista como jamais teve antes. Sem estereótipos baratos, do tipo ‘camaleão do rock’ (céus!)
Mesmo assim, você não fica sabendo de tudo sobre Bowie. Se não conhece a obra do artista, não é agora que vai conhecer. Além disso, o diretor usa cenas de filmes do astro no meio, sem aviso, ajudando a costurar a narrativa. O próprio teria ficado orgulhoso de (se) ver. Por isso, melhor ver ‘Moonage Daydream’ (música que veio do álbum ‘Ziggy Stardust’ e foi usada, recentemente, na trilha de ‘Guardiões da Galáxia’) como uma obra de arte única, uma experiência artística.
Filmado para ser exibido em cinemas com telas i-Max e som Dolby Atmos, está em cartaz no Brasil também em salas com telas menores. E, muito em breve, estará disponível nos serviços de VOD e streaming (HBO Max e Hulu).
TOM LEÃO
Comentários