JAMES BROWN: A DINAMITE DO FUNK E SOUL
Se você ainda chora a partida prematura de Chadwick Boseman, que ficou conhecido como o Pantera Negra, dos filmes da Marvel, procure assistir a “Get on up: a história de James Brown“, cine-bio do padrinho do soul e rei do funk, James Brown. Mal exibido nos cinemas daqui, pode ser visto no canal Telecine Cult.
Esta cinebio, está no nível das de Ray Charles e Johnny Cash. Mas, diferente destas, tem uma condução não-linear, indo e voltando no tempo. Começa com Brown entrando num túnel, que o levará ao palco de mais um super show, e, no trajeto, ele começa a relembrar fatos de sua (dura e sofrida) vida, que tem muito em comum com a de Ray: negro pobre, nascido no sul dos EUA, filho de pais separados e que enveredou, por necessidade, pela vida do crime. O que, no caso, foi ‘bom’. Porque, foi na cadeia, que Brown teve contato com a música, e viu que aquilo podia leva-lo adiante, tira-lo da lama. E Chadwick Boseman (ator vindo da Broadway), realmente canta e dança todas as partes. E tem o suingue, o soul, a negritude necessária. Nunca soa como uma caricatura. Mesmo assim, nos primeiros 10, 15 minutos, a gente demora a se acostumar com Chadwick, porque a imagem de Brown ainda é muito forte, presente no imaginário pop. Mas, logo, ele nos conquista, fazendo JB jovem, na fama, na lama, mais velho, bacana, maluco, e, sobretudo, dançando como ninguém jamais dançou igual antes. Ou depois. Sorry, Michael Jackson.
Mick Jagger (que é um dos produtores do filme, e também do documentário sobre Brown, ‘Mr. Dynamite: the rise of James Brown’) é um mega fã de JB. Mick até aparece, representado é claro, numa passagem em que Brown abriu para os Stones (muito a contragosto, porque JB sabia que era muito melhor do que os branquelos ingleses), na primeira ida da banda aos EUA. O que, positivamente, marcou Mick, que copiou trejeitos de Brown. E Chadwick, encarna JB de forma espetacular. Quem viu Mr. Funky Man ao vivo (como eu, no Maracanãzinho, em 1988), vai entender.
Além da música, JB apareceu em vários filmes. Como ele mesmo, na comédia de ação do Jackie Chan (‘O terno de um milhão de dólares”); no sensacional “Os irmãos cara-de-pau’ (‘The blues brothers’, 1980), como um pastor; e ‘Rocky IV’ (inclusive com a música-tema do filme, o sucesso “Living in America”), entre outros. Mas, para quem, por falha na educação musical, não conheça JB (cujos gritos e frases são muito sampleados até hoje), é bom saber de onde vem o apito do trem: quando de sua primeira passagem pelo Brasil, no começo dos anos 70, JB não apenas foi o inspirador dos passos de Tony Tornado, como também o rastilho de pólvora que ajudou a explodir o movimento Black Rio, origem do funk carioca. Mas JB foi muito mais: uma figura importante na afirmação do orgulho negro americano, na luta pelos direitos civis, que já impediu um quebra-quebra em Boston com um show. Tanto, que nem cabe tudo no filme.
Tom Leão
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