DAVID LYNCH: SONS, SONHOS E DELÍRIOS
Ao longo da história do cinema, os cinéfilos e amantes de trilhas sonoras, perceberam a ligação de certos diretores com determinados maestros/compositores. Alguns, são para toda a vida. Outros, marcaram época. O que seria de Hitchcock, por exemplo, sem o Bernard Herrmann? Dois dos mais marcantes filmes do mestre do suspense, “Um Corpo que Cai” (“Vertigo”, 1958) e “Psicose” (“Psycho”, 1960), dependem muito dos climas criados por Herrmann para estes. A cena do chuveiro de “Psicose”, por exemplo, deve MUITO à trilha.
Assim, com o tempo, passamos a associar determinados diretores a seus ‘trilheiros’. Como a associação perfeita de David Lynch com o maestro Angelo Badalamenti. A partir do momento em que, um conheceu o outro (para a trilha do filme “Veludo Azul”, 1986), deu liga. E, dali por diante, trabalharam juntos em vários projetos. O grande momento da parceria veio quando Badalamenti compôs a trilha para a série de TV “Twin Peaks” (1990). Por conta do tema deste, Angelo ganhou um Grammy.
O mesmo “Twin Peaks Theme”, rendeu frutos, e fez decolar a carreira do então desconhecido DJ americano de techno/ambient, Richard Melville Hall, mais conhecido como Moby. Ao usar um sample do tema em sua track “Go” (1991), Moby não apenas apareceu para o mundo (e entrou nas paradas), como, até hoje, é associado a esta música, apesar de seu sucesso com o álbum campeão ‘Play’ (99).
Voltando ao Badalamenti (que nasceu no Brooklyn/NY, de uma família de imigrantes italianos, vindos da Sicília), a conexão dele com David Lynch rendeu trilhas notáveis, para filmes como “Veludo Azul” (“Blue Velvet”, 1986), “Coração Selvagem” (“Wild at Heart”, 1990), “Estrada Perdida” (“Lost Highway”, 1997), “Cidade dos Sonhos” (“Mulholland Drive”, 2001) etc. Sendo que, por estas duas últimas, o maestro concorreu ao Globo de Ouro.
Mas, uma das mais bacanas parcerias de Badalamenti com Lynch, se deu quando ambos se juntaram à cantora Julee Cruise (que canta as canções da trilha de “Twin Peaks”) para criar o espetáculo “Industrial Symphony no.1: the Dream of the Brokenhearted” (1990), que mistura músicas de um álbum solo de Cruise (“Floating Into the Night”, 1989) com as canções de “Twin Peaks” e outras trilhas Lynch/Badalamenti. Resultou num magnífico show filmado, que, na época, foi lançado nos cinemas, e depois, saiu em vídeo.
Assim, Badalamenti, virou o Herrmann, de Lynch, conseguindo retratar, em música, os sonhos e pesadelos do delirante diretor…
Tom Leão
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