Titãs em noite inesquecível no Rio de Janeiro

Por Nem Queiroz – Claro que foi, como todos esperavam e não poderia ser diferente, um show imponente, bonito e sim, bom! Mas poderia ter sido melhor! Mas outrossim, foi melhor dentro do real possível! Foi muito bom! O quê?! O que é o que não pode ser que não pode ser… que não é!?
Os Titãs entraram em cena em segunda noite seguida de sua nova Turnê “Titãs Encontro”, com todos os seus integrantes (a adorável clássica formação) que não tocavam juntos ha 30 anos! História conhecida, sigamos com o show. Eles adentraram ao palco às 22:20 ovacionados por uma casa tão imensa quanto cheia, uma arena com arquibancadas tão íngremes (Jeunesse Arena) que dava vertigem, uma pista enorme e igualmente lotada, ótima para uma plateia que precisava de espaço porque são muitos os fãs! Luzes funcionando, telões modernos, som no talo, plateia eufórica para rever e reverenciar seus ídolos numa volta mais que esperada! Um palco gigante (com dois níveis) para os gigantes, ou melhor, para os Titãs do nosso tão querido rock’n roll tupiniquim! O show deve continuar, não pode parar! E foi o riff de “Diversão” que primeiro falou alto aos nossos tímpanos, corações e mentes! Eram os nossos heróis, não tão moços como antes, é verdade, mas Titãs ainda; mais que uns Titãs, uns dinossauros, que merecem todos os nossos aplausos, amor e carinho. Mas vamos ao show!

Todos em seus lugares, e a introdução dava lugar para o primeiro grito da noite: “A vida até parece uma festa!” A primeira frase da noite, coincidência ou não, era também o título do livro que conta a história da banda (“A vida até parece uma festa” de Hérica Marmo e André Alzer) que eu tive o prazer de fotografar a noite de autógrafos com a presença de Gavin e Belloto, há dois meses atrás, num shopping no Leblon (veja aqui https://portalrockpress.com.br/titas-biografia-entrevista-com-os-autores/). Já começava ali a minha privilegiada caminhada até o dia do show! Eu sou um Titã!

Já na entrada da banda o vislumbre de tudo e a música escolhida era a senha de que a “Diversão” estava garantida e que teríamos um grande show com o melhor dos Titãs em desfile contínuo e uníssono, e foi como seguiu, um hit atrás do outro; eu lá de cima do último degrau (cadeira) do último andar, me sentindo um deles no espaço sideral, me emocionando com a vida latente de uma das minhas bandas preferidas. Era mesmo de emocionar, embora, quer queira quer não queira, e difícil é dizer, que eles são agora senhores do rock, uma banda que foi perdendo seus dentes, quase ficando Benguela com a saída de seus principais integrantes, onde num grupo de 8, chegaram a 3, (Bellotto, Branco e Sergio) numa demonstração de resiliência sem igual, para agora, só agora, entenderem que são muito mais fortes juntos, como bem disse Nando Reis num determinado momento da apresentação! Dizendo de cara que momento mais emocionante foi quando Branco Mello, que sofreu uma cirurgia na garganta em função de um tumor e que ficou quase um ano sem sequer falar se recuperando, pegou o microfone para comunicar com a voz ainda muito esganiçada que estava ali, vivo e que iria cantar e cantou! Muito foda! Muito Titã!
O público era de fato bem comportado (que me fez lembrar daquela histórica apresentação no Teatro Carlos Gomes, em contraponto) mas ele (o público) não era de arredar o pé e ali ficou e ficaria por uma noite inteira se fosse preciso, bem se diga. Mas o show começou bem, Pedardos como “Cabeça Dinossauro”, “O Pulso”, “Estado violência” e “Comida” e ainda “Igreja” e “Nome aos bois” (onde Nando Reis inseriu um certo nome entre eles, de um certo ex-presidente, para não deixar barato) não faltaram, assim como “Epitáfio”, “Flores” e até uma homenagem a Erasmo Carlos (“Está não é uma canção romântica e sim filosófica, anunciava Paulo Miklos) em ” É preciso saber viver” na parte mais intimista e “morna” do espetáculo.

Completaram o set, “Os cegos do castelo”; “Pra dizer adeus” e “Toda cor”, numa participação pra lá de especial, que Arnaldo Antunes nos trouxe, Alice Fromer, filha do saudoso Marcelo Fromer, guitarrista falecido, substituído à altura por Liminha, produtor da banda. Na volta para o elétrico a canção da vez foi “Marvin” onde Sérgio Brito e Nando Reis arriscaram um improviso nas falas que não saiu muito bem, essa foi a impressão. Preciso dizer para ser completo que também houve escorregões de tons a afinações de guitarras em algum momento, mas tudo quase imperceptível, nada que estragasse o andamento das músicas nem da festa, embora que “valá”, os meninos têm crédito!
Não querendo ser repetitivo, mas isso me incomodou o show inteiro, e me chamava atenção sorrateiramente. O público apesar de imenso, de não sobrar um lugarzino sequer na pista, não era explosivo. Será que ele também envelheceu? Claro que sim, mas para além disso, cansaram? Era nítido o prazer, pelos aplausos sucessivos, canção após a canção, mas faltava alguma coisa para um público rock’n roll. Corroborando com as minhas suspeitas, as três últimas canções subsequentes a “Televisão” (onde Arnaldo Antunes recordou o clip deles na MTV quando punha uma antena na cabeça para depois dizer que hoje as televisões nem antena mais usam) e “Porrada”, foram “Polícia”, “aa uu”, e “Bichos Escrotos” fechando a noite, conseguindo por fim tirar um pouco o pessoal do chão. Gavin também me chamava atenção pela sua super concentração na bateria, parecia o mais exigido mesmo sem ser (se é que vocês me entendem).

No entanto, devo e quero dizer que todos foram exemplares! Banda e público! Pois sim, havia entrega. Foi um show recheado de hits muito embora tenha faltado (inadmissívelmente) a minha preferida, “Corações e Mentes” e ainda “Vossa Excelência” e “Aluga-se”, por exemplo. Outra falta: “Será que é isso que eu necessito” falando como fã, seria um bom nipe para fechar a noite, ao invés da super pop “Sonífera ilha” que o público adorou sem nunca decolar, (seria mesmo questão da idade?) eu também tive as minhas reservas.
A surpresa do bis foi a música de Mauro e Quitéria abrindo “Miséria” como no disco (sensacional)! Muito bom. Sim, no fim das contas o show foi muito bom. Muito bom mesmo!
Por Nem Queiroz, o fotógrafo observador. 28.04.2023