Receiver Gradiente Model 900 – Qualidade que atravessa gerações

Por Luck Veloso – Houve um tempo em que se ouvia música com altíssima qualidade em casa. Sim, acredite, houve um período na história da música em que se vendia, ao consumidor caseiro, aparelhos incríveis, potentes, possantes, robustos e com incrível resposta sonora, além da comprovada durabilidade. O Receiver Gradiente Model 900 tem tudo isso.

Receivers são receptores e propagadores de áudio e vídeo, muito utilizados nos anos 1970 e 1980 e cultuados por muitos até os dias atuais, incluindo é claro, este que vos escreve. E acredite, não se trata apenas de um saudosismo, embora nitidamente soe como tal. O som reproduzido ali é sim, bem diferente do que acontece nos aparelhos atuais.

Recentemente fiquei triste pela ´passagem´de um antigo Micro System da Sony, que me acompanhava há anos e que finalmente sucumbiu a décadas de instabilidade elétrica do Rio de Janeiro. Como minha vida tem sido ouvir música e analisar muitas faixas para eventos e gosto próprio, me obrigo a ouvir música com som de qualidade, então passei meses, quase um ano, sem ter qualquer tipo de som em casa.

Em termos de equipamento sonoro, sou preconceituoso ao extremo. Não acredito e não confio em quase nada feito após 1980 e essa face ranzinza do meu ser me direcionou a esperar o momento certo e ficar atento às maravilhas que aparecem na internet, eventualmente.

Numa dessas noites insones, de viagens entre bytes oferecendo milhares de bugigangas, eis que de repente, olhei uma das imagens que me são tão familiares e que me remeteram instantaneamente à minha adolescência. Estava ali à minha frente, na tela do computador, um legítimo receiver Gradiente Model 900, à venda, por um preço bem acessível, na Ilha do Governador, um dos bairros que também fazem parte da minha história de amor à música.

O coração acelerou, a pele arrepiou e um leve sorriso se abriu no meu rosto. Uma reação adolescente, talvez, porém só quem conviveu com essas maravilhas da época sabe a qualidade sonora que eles entregam, ainda mais se conjugados com boas caixas de som.

Gradiente Model 900 – fotos: Luck Veloso
Sem qualquer sombra de hesitação ou dúvida, entrei imediatamente em contato com o vendedor e fiz negócio, indo então até a casa do mesmo buscar o meu objeto de desejo. O Gradiente Model 900 é um aparelho produzido em 1979 e rebuscando pela internet, encontrei a ficha técnica completa desse lindo e robusto trambolho, que agora brilha belo e poderoso em meu home office. Perceba como, naquela época, até um ´simples aparelho de som´ possuía uma ficha completa, uma identidade, origem, possibilidades, enfim, quase uma alma:

· Potência (por canal): 15W RMS (8 Ohms / 0,2% THD / 20Hz – 20kHz)
· 18W RMS (4 Ohms)
· 29W IHF (4 Ohms)
· Impedância de saída: 4 a 16 Ohms
· Resposta de Freqüência (1 Watt): 20Hz – 20kHz (-2dB)
· Resposta de Freqüência (pot. máx.): 10Hz – 31kHz (-3dB)
· Distorção Harmônica Total (THD): 0,2% (pot. máx., 8 Ohms)
· Distorção por Intermodulação: 0,3% (pot. máx., 8 Ohms)
· Fator de amortecimento: 60 a 1kHz, 8 Ohms
· Entradas de Áudio: 3 (sendo: 1 Phono, 1 Tape, 1 Auxiliar)
· Controle de tonalidade: Graves +/- 10dB a 100Hz
· Agudos +/- 10dB a 10kHz
· Loudness (-30dB): +8dB a 100Hz, +6dB a 10kHz
· Relação Sinal/Ruído: 60dB (Phono, FM)
· 80dB (Linha)
· Sensibilidade e Impedância: 2,5mV / 47k Ohms (Phono)
· 170mV / 47 k Ohms (Linha)
· Sensibilidade Seção Receptora (Tuner): 1,8uV (FM), 200uV/m (AM)
· Separação entre canais: 35dB a 1kHz (FM)
Geral
· Alimentação: 120/220V (50/60Hz)
· Consumo: 18W (sem sinal) / 80W (plena carga)
· Dimensões: 412 x 150 x 300 mm (LxAxP)
· Peso: 7 Kg
· Ano: 1979

O receiver não funciona sozinho. Ele é, como o próprio nome entrega, um ´receptor´, um recebedor de sinal, seja ele via rádio ou ainda, via entrada auxiliar, que pode ser utilizada por CDs, DVDs, Tape Decks e afins e ainda, por uma Phono, para ligar um Toca Discos, Vitrola, Pick Up ou seja lá como você chame o player das amadas bolachas pretas, batizadas de vinyl.

Quando finalmente cheguei em casa e consegui conectar os fios às suas entradas e ouvi as primeiras vibrações sonoras, me senti novamente com 15 anos. Talvez, a partir de hoje, pelo menos perto dele, eu me sinta assim para sempre. Não! Não consigo sequer ouvir por muito tempo os equipamentos de som atuais. Velho eu? Provavelmente sim, mas pra que todas aquelas luzes oscilando? Pra que todos aqueles botões, muitos sem qualquer relevância e função, tentando imitar (sem sucesso) os equipamentos profissionais para DJs? Simplesmente não!

Se você ama música de verdade, escute o meu conselho: experimente ouvi-la em frente à um receiver stereo de 1979. Não se trata de querer se sentir superior, por ´gostar do que é bom´. Não. A questão aqui é simplesmente reconhecer a majestade, a magnitude de uma era que simplesmente não volta mais. E não volta porque o descartável ganhou o noticiário. A alma, os objetos que possuíam qualquer resquício de qualidade e dignidade, foram relegados a um plano de “coisa velha” e de “gente saudosista”.

Aceito os xingamentos! Me chamem do que quiserem, acolherei suas palavras de bom grado, mas por favor, não me coloquem de frente a um equipamento de som para consumo doméstico atual. O preço de gostar de almas é ter que frequentar o cemitério e os que eventualmente caminho, possuem transistores, luzes suaves, botões lisos e knobs estilosos e eventualmente o charme do “Loudness”, que engrossa não somente a resposta vinda dos alto-falantes, mas arrasta ainda hoje, acredite, uma legião de fãs emotivos como eu. Obrigado Gradiente, serei eternamente grato.

Músicas que ouvi (no Model 900) enquanto escrevia este post:

Shadow – Chromatics
Ocean (feat. Dave Gahan) – Goldfrapp
Kerosene – Crystal Castles
In Yer Face (Bicep Acid Dub) – 808 State.

Se quiser entender, dê uma olhada na linha atual da Gradiente e volte aqui para me falar o que achou!