Ratos de Porão, Black Pantera e Punhal: festa antifascista

Por André Cult (fotos: Mima Rodrigues) – No último sábado, sob um típico calor infernal carioca, o Circo Voador recebeu mais uma daquelas noites que unem gerações de público e artistas. Com fãs de idades bem variadas e bandas de diferentes épocas, a noite era de celebração e revolta, no melhor sentido da coisa. Teve até infiltrado expulso, mas calma que essa a gente conta depois.

O Ratos de Porão fez um dos shows mais insanos da história da lona da Lapa. Com participação massiva do público, inclusive em cima do palco, a banda mais uma vez comemorou suas mais de quatro décadas de carreira no lugar onde tocam desde 1983 (com o Gordo nos vocais desde 1985). Desta vez, apresentando músicas do último álbum, “Necropolítica”, de 2022, que conta com letras bem atuais, cheias de referências ao governo passado.

E o público já sabia cantar tudo, principalmente a grudenta “Alerta Antifascista”, que abre os trabalhos. Mas é claro que os clássicos foram responsáveis pelos grandes momentos do show. Entre eles, “Beber até morrer”, “Aids, Pop, Repressão”, “Crucificados pelo Sistema”, “Expresso da Escravidão” e “Igreja Universal”, esta dedicada a ex-deputada e pastora Flordelis, presa no ano passado.
Mas o craque do jogo foi mesmo João Gordo, que estava falante, bem humorado e cheio de disposição. O vocalista comemorou uma melhora em sua saúde e comemorou que não estava usando bengala. Claro, foi muito aplaudido nesse momento.

Pouco antes, os mineiros do Black Pantera fizeram sua segunda apresentação na casa, desta vez como co-headliner, e muita gente estava lá só para vê-los. Charles Gama, Chaene da Gama e Rodrigo “Pancho” Augusto dominaram o público logo de cara misturando faixas do novo álbum, “Ascenção” (2022), sons mais antigos do “Agressão” (2018) e covers já consagrados no set do trio, como “Todo Camburão Tem um Pouco de Navio Negreiro” (O Rappa), “A Carne” (Elza Soares) e até um “Negro Drama” (Racionais) improvisado. Vale destacar o novo single, “Delírio Coletivo”, cujo clipe foi lançado na mesma semana do show, e as porradas “Padrão é o Caralho” e “Fogo nos racistas”, que não contou com a pirotecnia do Rock in Rio, mas nem precisava. Foi tudo perfeito.


Abrindo a noite, os cariocas da Punhal vomitaram seu hardcore antifascista cheio de críticas sociais. Sorte de quem chegou cedo e pode entrar na roda ao som de porradas que tocam na ferida como “Liberal Brazuca”, “Uma lei pra eles, outra pra nós”, “Deus da bala, bíblia e boi” e “Abriram-se os porões”, Esta última apenas com falas preconceituosas do ex-presidente Bolsonaro.

Curiosamente, uma das faixas tocadas foi “Guia teórico sucinto de como conversar com um fascista”. Apesar de “teórico”, foi possível ver a situação na prática logo nos primeiros segundos de show. Quando o organizador do evento, Luciano Paz, subiu ao palco para anunciar a Punhal, deixou bem claro que ali era um evento antifascista e antirracista. Foi neste momento que um sujeito interrompeu a fala gritando repetidamente “otário, otário, otário”. Paz rebateu que o único otário ali era ele e que seu lugar era na porta do quartel, em referência aos golpistas do atentado de 8 de janeiro, em Brasília. Quando a música começou, a roda abriu e o intruso teve que correr pra não apanhar ali mesmo, até que foi expulso da casa. E aquilo era só o começo da noite!
Set list Ratos de Porão:
Alerta Antifascista
Farsa nacionalista
Amazônia nunca mais
Aglomeração
Crocodila
Suposicollor
Necropolítica
Crucificados pelo sistema
Descanse em paz
V.C.D.M.S.A. (Vivendo cada dia mais sujo e agressivo)
Morte ao rei
Difícil de entender
Engrenagem
Toma trouxa
Expresso da escravidão
Beber até morrer
Crise geral
Conflito violento
Aids, Pop, Repressão
Paranóia nuclear
Igreja universal
Sofrer
Herança
Obrigado a obedecer
Set list Black Pantera
Legado
Padrão é o caralho
Mosha
Godzila
Taca o foda-se / Sexto Dia / Todo Camburão Tem Um Pouco de Navio Negreiro
Fogo nos racistas
A carne
Abre a roda e senta o pé
Delírio coletivo
Revolução é o caos
Boto pra fuder
Set list Punhal
Só não vence quem não quer
O Brasil não deixa
Liberal Brazuca
Uma lei pra eles, outra pra nós
Geração de endividados
Guerra de classes
Guia teórico sucinto de como conversar com um fascista
O Supérfluo
O nosso lugar
Deus da bala, bíblia e boi
Abriram-se os porões
Mais um CPF cancelado
A história dos homens de bem
Hora do movimento ANTIFA ir pras ruas em resposta ao que os patriótários fizeram em 8 de janeiro! FASCISTAS NÃO PASSARÃO !