O Rock Errou?

Por Cleber Jr. – O ano de 1970 foi o marco inicial para muitas bandas que se tornaram icônicas. Foi o ano de lançamento do primeiro álbum do Black Sabbath,

UFO, Gentle Giant, Emerson, Lake & Palmer e estreias em carreira solo de Eric Clapton, Rod Stewart e John Lennon. Oficialmente separado dos Beatles, Lennon lançava Plastic Ono Band um álbum lindo e amargo. Nele divaga sobre as dores do passado tentando se livrar dos fantasmas que o atormentavam desde a infância, não acredita em quase nada como recita na letra de God. Foi lá que ele emplacou o famoso “o sonho acabou”. Era o fim de seu sonho juvenil, suas ideias em busca por um mundo mais justo, da filosofia do “faça amor, não faça a guerra”. Teria o rock morrido ali?

Na década anterior o rock iniciava o seu momento mais criativo, se proliferando em diversas vertentes que se tornaram sólidas e populares na década de 1970. Experimentalismo, blues, peso, balanço e psicodelia eram parte dessa mistura e formaram super bandas com seus componentes inflando o ego, caminhando a passos lentos, carregando peso da grandiosidade adquirida e o distanciamento do público. Esse comportamento deu vez ao “se não gosta do que existe, faça você mesmo” do punk que chutou a porta e entrou sem pedir licença no final da década e tudo passou a ser diferente.
O punk abriu espaço para uma nova atitude, reciclando os anos 1950, ousando no comportamento, na moda, no humor ácido e tocando músicas curtas. Simplificando em três acordes, instigou a quem ia assistir a formar a sua própria banda. Com poucos recursos, logo surgiram os fanzines que tinham o objetivo de divulgar a cena e promover a nova agitação cultural.

Inquieto o rock mais uma vez se reciclava e ampliava suas misturas criativas conectando novos adeptos e se aproximando cada vez mais do pop, do eletrônico, enquanto outro segmento se posicionava de forma alternativa incorporando psicodelia, influência punk e folk, influenciadas pelo underground e independentes do maisntream.
No Brasil, Lobão vaticinava O Rock Errou. Era seu terceiro álbum e logo na primeira faixa, que batizava o álbum, dizia: “Dizem que o rock andou errando, não valia nada, alienado e eu aqui na maior das inocências”. Quase uma heresia, justamente quando o rock brasileiro encontrava seu auge, com bandas como Paralamas, Capital Inicial, RPM, Titãs, Blitz dominando a cena que parecia estabilizada, definitivamente, com a chegada do primeiro grande festival em tamanho e organização, o Rock in Rio.

O festival cada vez mais apoiado no gosto popular para incluir em seu line-up um pouco do que se convencionou a chamar de rock. A tecnologia proporcionou a novas bandas a oportunidade de divulgarem seus trabalhos através de redes sociais, mas essas mesmas bandas e músicos parecem poucos preocupados com sua divulgação, há pouca informação sobre eles, os fanzines tornaram-se objetos de colecionadores ou migraram para a rede, garimpar é preciso, mas aonde?
Uma passagem rápida pelas listas das 50 mais tocadas, no Brasil e no mundo, nos serviços de streaming, deixa claro que o rock não ocupa mais o espaço que foi dele por todos esses anos, sonho acabou.
O Rock não errou, as pessoas que são influenciadas pela corrente de marketing e de modismo, que as transitam pelos mais diferentes caminhos, de acordo com o que dá retorno mediante um encantamento provisório, geralmente inexplicável, mas presente e envolvente como um tsunami! O Rock, no entanto, permanece ali, no seu espaço próprio, pronto para as mentes aguçadas e carentes de algo melhor!