O Brilho e a Influência do Glitter Rock

Foi lançado no início de setembro o álbum tributo Angelheaded Hipster – The Songs of Marc Bolan & T. Rex e se você não ligou o nome à pessoa precisamos voltar aos anos 1970, quando o glam rock dava seus primeiros passos com o Tyranossaurus Rex a banda liderada por Mark Bolan.
Mark Bolan explodiu, na cena pop, andrógino, repleto de cores e brilho, era ótimo compositor e letrista, mas, seu enorme sucesso na Grã-Bretanha no início dos anos 1970 deveu-se a sua aparência exótica para a época e seu estilo foi inspiração para a criatividade de gente da moda, como Gucci e Saint Laurent e David Bowie e muitos outros na música.

Começou imitando Bob Dylan, no final dos anos 60, mas virou o jogo em 1971 ao direcionar o som psicodélico do T. Rex, como ficou conhecida a banda, para um som elétrico, mais maisntream.
Sua performance no Top of the Pops vestido com um terno de cetim prateado, o rosto envolto em cachos e com lágrimas de ouro brilhantes sob os olhos é, frequentemente, reconhecida como o nascimento do glam ou glitter rock.
E foi ao acaso que Chelita Secunda, esposa de seu empresário na época, “uma musa para Bolan”, que sempre usava glitter resolveu colocar em Bolan, numa reunião em sua casa que David Bowie e Elton John estavam presentes. Eles quiseram também, daquela reunião de amigos, o brilho foi para os palcos e o mundo nunca mais foi o mesmo.
A extravagância andrógina de Bolan antecedeu a encarnação sexualmente ambígua de Ziggy Stardust, a bissexualidade de Brian Eno no Roxy Music e popularizou uma imagem atípica nos roqueiros britânicos.

O impacto que o artista causou durou pouco, semanas antes de completar 30 anos, sua namorada Gloria Jones dirigiu o carro na direção de uma árvore, tornando breve a vida do Bolan. A mudança comportamental ficou e seu look de plataformas volumosas, penas e estampas de pele de cobra continuou inspirando a moda e a música.
Podemos ver Bolam em St Vincent e até mesmo no estilo oposto, super masculino, de Slash que ostenta o visual espelhado na capa do álbum de 1972, The Slider. No Brasil, oglam foi representado inicialmente pelo cantor Edy Star e posteriormente Secos & Molhados e Rita Lee no início de sua carreira solo com abanda Tutti Frutti.
“Mark Bolan era a estrela pop perfeita. Suas músicas eram ótimas, seus discos arrasavam, ele tinha atitude, habilidades performáticas, era fabuloso numa época em que eu ainda estava me tornando Elton John, ele já era grande. Ele está sendo ele mesmo e está amando cada minuto disso”. Ele teve grande efeito em mim, admite Elton John.
Três acordes, guitarras distorcidas, singles arrasadores e ultrajantes. Fãs enlouquecidas, tentando conseguir uma recordação corriam atrás do seu carro, levavam tesouras para os shows, numa histeria só vista antes com os Beatles.
Com a chegada do punk com sua política de terra arrasada, muitas bandas do passado do rock foram descartadas. O T. Rex não foi! A admiração era mútua, artistas estabelecidos dispensavam o punk, o olhavam com desdenho. Ao contrário Bolan, se entusiasmou com a pegada selvagem que estava lá. Foi ao primeiro show dos Ramones no Reino Unido. Convidou o The Damned, para abrir seus shows e apresentou o Generation X, “eles tem um vocalista chamado Billy Idol, tão bonito quanto eu”.

O álbum Angelheaded Hipster – The Songs of Marc Bolan & T. Rex é um tributo a Mark Bolan e foi o último projeto do produtor Hal Willner, falecido esse ano por problemas em decorrência do corona vírus. O álbum reúne artistas como Nick Cave, Perry Farrel, Marc Almond, Peaches e Kesha.
Wilner acreditava que Bolan era uma figura negligenciada, tendo ficado à “sombra de Bowie, que tomou sua essência”.
Com destaque para Perry Farrel em Rock On, Joan Jet no rockão Jeepster e a interpretação incrível de Nick Cave para Cosmic Dancer, o álbum passeia pela carreira de Bolan e um belo primeiro passo, para conhecer a obra desse artista inspirador e buscar seus originais nos serviços de streaming.