Dorsal Atlântica faz show necessário e Sepultura foca em novidades no Rio

Por André Cult (fotos de Rogério Bezerra) – O Sepultura fez no último sábado (12/2) o primeiro show da turnê do álbum “Quadra” (2020). Dá pra dizer que foi um acontecimento histórico pelo conjunto da obra, já que a banda convidada para tocar antes foi a lendária Dorsal Atlântica e o local escolhido, Circo Voador, dispensa apresentações.

Ganhando o público de cara, Derrick Green (vocal), Andreas Kisser (guitarra), Paulo Xisto Jr (baixo) e Eloy Casagrande (bateria) apresentaram um set com 20 músicas, focando em material novo, pinçando clássicos das duas fases e alguns lados B.

Foram executadas pela primeira vez ao vivo “Last Time”, “Means to an End”, “Capital Enslavement”, “Guardians of Earth”, “The Pentagram” e “Agony of Defeat”. Dos clássicos da fase irmãos Cavalera, vale destacar “Refuse/Resist”, “Arise”, “Territory” (com o MONSTRO Eloy inspiradíssimo) e a dobradinha “Ratamahata” / “Roots Bloody Roots”, que fez o povo voltar pra casa cansado, mas feliz.

Surpreendendo muitos, ainda deu tempo de incluir alguns lados B, como “Slaves of Pain”, do álbum “Beneath the Remains”, esquecida dos shows desde 1993, e “Infected Voice”, do “Arise”, que não era tocada ao vivo desde 2011. Resta saber se estas vão continuar no set da turnê ou se Andreas Kisser, espertamente, quis agradar ao público mais velho da Dorsal que estava presente. Inclusive, vale lembrar que o guitarrista usava uma bela camisa da banda de Carlos Lopes.
O Sepultura segue assim superando a qualidade técnica a cada turnê e demonstra coragem em fazer um set list composto em sua maioria por músicas da fase atual, mas sem esquecer os hinos que fizeram a banda ser o que é hoje.

Dorsal Atlântica: necessário!
Antes de falar da Dorsal Atlântica, vale lembrar que não tivemos shows de abertura, mas dois shows! E o Sepultura não existiria sem Dorsal. Dito isso, o momento mais esperado para muitos ali, sem dúvida, foi a apresentação de Carlos Lopes e cia.
Quem chegou mais cedo presenciou um show necessário para os dias atuais. Com Lopes inspirado, o repertório da banda focou em músicas da última década e um encerramento de clássicos, com direito a muitos discursos antifascistas, questionamentos e o tradicional coro de fãs “pedindo Anitta” (não vamos citar o nome da figura homenageada). E o público compareceu em peso com várias camisas engavetadas, incluindo gente de fora do Rio e fãs internacionais.

Sem firulas de introdução ou apagar de luzes, a galera estava de boa curtindo o bom set do DJ Angelo Arede (Zé Pilintra da Gangrena Gasosa e ex-baixista da Dorsal), quando de repente Lopes, Alexandre Castellan (baixo) e Bráulio Drummond (bateria) apareceram no palco prontos pra começar. Um detalhe: Carlos fez o show com sua pequena guitarra matadeira, instrumento baiano que foi usado no álbum “Canudos”. Algum tempo depois, o músico explicou que se descobriu ao “parar de fazer música pra gringo” e completou dizendo que ali ele toca “forró e baião pesado”.
As músicas do álbum mais recente, “Pandemia”, são bem atuais, incluíndo a faixa título e outras, como “Infectados” e “Combaterei”, mas pra muitos ainda eram uma novidade, já que os discos não estão em todas as plataformas digitais. Porém, as faixas dos demais discos da última década já estavam na boca do povo, como as magistrais “Meu Filho me Vingará” e “Belo Monte”, sempre acompanhadas de mensagens de esquerda e antifascistas, para alegria de muitos e desespero de outros, que tentavam vaiar ou xingar, sem sucesso. Nada de novo pra quem já conhece a história da banda.

Entre uma pausa e outra, algumas demoradas afinações na guitarra, mensagens de protesto e um claro apoio ao ex-Presidente Lula, pré-candidato a eleição de 2022. Em outros momentos, Lopes também enalteceu Fidel Castro, questionou quem matou Marielle Franco, seguido de um “nós sabemos a resposta”, e berrou “por Stalin, pela Revolução” após tocar “Stalingrado”, do álbum “2012”, que narra a queda dos nazistas na Segunda Guerra. Incomoda? Essa é a Dorsal Atlântica!
E como não podia deixar de ser, o grupo quebrou o jejum de 24 anos sem tocar ao vivo com um bis destruidor de clássicos dos anos 80, que fechou lindamente com “Guerrilha”, adaptada com um trecho de “The End”, dos Beatles, pra deixar aquela mensagem de esperança nesses tempos difíceis (“no fim, o amor que você recebe é igual ao amor que você dá”). É clichê dizer isso, mas muita gente saiu com a alma lavada. Afinal, foram mais de duas décadas de espera.
Agora é torcer pra seguirem em turnê.
Bacana! Pena eu não ter podido registrar esse monumental encontro. Mas caiu no meu colo 2 ingressos pra ver a Pitty, então era o que eu tinha pr’aquela noite. Pra não perder de zero lá fui eu! Qdo cheguei o Sepultura já estava tocando! Pensei que fosse a primeira banda da noite! Mas vc diz aí que a primeira foi o Dorsal! Foi tão cedo assim, então!? Putz, daria então pra ver os dois shows, quer dizer os três, ou melhor os quadro! Show de abertura na Fundição começou meia noite e meia!
Sai daqui de Cabo Frio pra assistir essas duas bandas maravilhosa. Sepultura está em sua melhor fase.